Durante sua recente viagem ao México, o Papa João Paulo II canonizou João Diego, o índio mexicano ao qual Nossa Senhora de Guadalupe apareceu. Neste artigo, o autor revela aspectos da mensagem simbólica presentes na miraculosa imagem da Padroeira da América Latina, cuja festa se celebra no dia 12 de dezembro.

 

Os povos pré-hispânicos do México trans­mitiam a narração dos fatos de sua his­tória, de geração em geração, por meio de poemas e letras de cantos transcri­tos através de símbolos hieroglíficos e outras figuras, em rudes fibras de cactos, algodão, peles ou cascas de árvores. São os chamados “códices”.

Nossa Senhora de Guadalupe

Por sua vez, os historiadores são unânimes em afirmar que a figura de Nossa Senhora de Guadalupe estampada na tilma (poncho típico usado pelos indígenas do México) de Juan Diego está repleta de figuras simbólicas. Característica que a torna ainda mais singular, porque era destinada a povos que se comunicavam justamente por meio de imagens e símbolos. Na mente dos índios, a estampa da Mãe de Deus não era um mero retrato, belo e extraordinário, como o foi para os missionários e conquistadores, mas representava uma mensagem ou um “có­dice” vindo dos céus.

Por meio desta demonstração sobrenatural, Nossa Senhora de Guadalupe manifestou para aqueles povos seu carinho todo especial, sua bondade sem limites e uma mi­sericórdia e uma suavidade que até então eles nunca ha­viam experimentado.

Analisemos, alguns desses símbolos presentes na ima­gem de Nossa Senhora de Guadalupe.

O cinto e o resplendor

Nossa Senhora de Guadalupe se apresenta com um cinto que não se localiza em sua cintura, porém mais acima. Era o sinal para os indígenas de que Ela estava gestante. A quem daria à luz? Ao “Sol Resplandecente”.

O grande resplendor que Nossa Senhora tem atrás de si, ou que sai de dentro d’Ela, é o sol. Para os habitantes do México, esse astro era o símbolo da divindade. Logo, a senhora da figura não era outra senão a Mãe de Deus.

Data da Aparição

Há um dado significativo, vinculado ao símbolo do sol. Estava relacionado com o chamado solstício de inverno.

No Brasil, como em todo o hemisfério sul, ele ocorre em 22 de junho. Devido à inclinação do eixo terrestre, o Sol atinge seu máximo afastamento da linha do Equador. É o início do inverno, é também o dia em que o Sol nasce mais tarde e se põe mais cedo. Por isso, igualmente, é o dia mais curto e a noite mais longa do ano.

No hemisfério norte, no qual está situado o México, o solstício de inverno acontece em 22 de dezembro. Desde a mais remota antiguidade, os po­vos pagãos considera­vam essa data a mais importante do ano, pelo sim­bolismo do Sol que, após definhar, volta a crescer.

Os povos primitivos me­xicanos, muito conhe­cedores de astronomia, tinham esse dia na mais alta consideração, constituindo sua principal data religiosa. Era a ocasião em que o sol moribundo recobrava vigor, era o retorno da vida, o ressurgimento da luz, a vitória sobre as trevas. A aparição de Nossa Senhora de Guadalupe deu-se exatamen­te nessa ocasião. Embora naquele tempo cons­tas­se como 12 de dezembro, tratava-se de um erro do calendário Juliano, que foi corrigido mais tarde. Na realidade, estava-se em 22 de dezembro.

Para reforçar a impressão neles causada, nesse mesmo momento o cometa Halley atingiu seu zê­nite no céu mexicano.

Rosto virginal da Santíssima Virgem, emoldurado pelos cabelos soltos; e a flor de quatro pétalas, nahui-hollín

O manto de estrelas

De acordo com recentes estudos, pôde-se comprovar com admirável exatidão que, no manto de Nossa Senhora, estão representados os astros mais brilhantes das principais constelações visíveis do Vale de Anahuac, na ocasião da aparição. Era uma prova a mais de que a Senhora vinha do Céu.

A Flor de quatro pétalas

Se analisarmos com atenção a túnica de Nossa Senhora, abaixo do cinto veremos uma pequena flor de quatro pétalas. Essa flor é a nahui-hollín, de grande importância na visão indígena do Universo. Ela representava a antiga cidade de Tenochtitlan, a capital azteca, e em especial a colina de Tepeyac, onde se deu a aparição de Nossa Senhora. Representava também a plenitude da presença de Deus.

Era outra indicação, para aqueles povos, de que a Senhora com o manto de estrelas levava em seu puríssimo seio o único Deus verdadeiro.

As demais flores e figuras impressas em sua túnica não estão aí postas ao acaso. Correspondem aos diversos aspectos geográficos do México, que os índios sabiam interpretar com perfeição.

Os cabelos

Nossa Senhora aparece com os cabelos soltos, o que entre os astecas era sinal de virgindade. Portanto, mostrava ser Ela Virgem ao mesmo tempo que Mãe.

O rosto

Por fim, Nossa Senhora apresentou-se com traços mes­tiços, rosto moreno e ovalado. Não se pode deixar de ver aí uma manifestação do maternal amor d’Ela pelos pri­mi­tivos habitantes da América.

*   *   *

Muitíssimos outros símbolos podem observar-se na ex­traordinária estampa de Nossa Senhora de Guadalupe e nenhum deles lá está ao acaso, pois tudo n’Ela é de uma su­­prema Sabedoria. De outro lado, existe um sem-nú­me­ro de maravilhas que a ciência, com todos os seus avan­ços, não consegue explicar. Por exemplo, o extraordinário fe­nô­meno de suas pupilas, nas quais se distinguem com lupa minúsculas figuras humanas; a durabilidade do rude man­to (tilma), que nem o ácido sulfúrico consegue des­tru­ir; o modo misterioso em que foi impressa a figura da Vir­gem; e outros aspectos que futuramente abordaremos.

São as maravilhas da “sempre Virgem Santa Maria, Mãe do Verdadeiro Deus”, como Ela mesma se definiu quando falou pela primeira vez com São Juan Diego.

 

Os olhos da Virgem de Guadalupe

A existência da figura de um homem estampada no olho direito da ima­gem da Virgem de Guadalupe é um fato inegável, confirmada por diversos profissionais e cientistas após meticulosas investiga­ções.

Em 1929, o fotógrafo oficial da antiga Basílica de Guada­lu­pe, Alfonso Marcué, afirmou ter descoberto no olho direito da imagem a figura de um homem barbado.

Em 1951, o desenhista José Sa­linas Chávez examinou com uma lupa o olho da imagem milagro­sa e ratificou a descoberta do fo­tógrafo. Posteriormente, escre­veu um livro intitulado Juan Diego nos olhos da Santíssima Virgem de Guadalupe (Ed. Tradición. Mé­xico, 1974).

Cinco conceituados oftalmo­logistas — Javier Torroella, Ra­fael Torrija Lavoignet, Guillermo Silva Rivera, Ismael Ugalde Nieto e Joseph P. Gallagher — fizeram uma rigorosa análise do mesmo olho da imagem, em 1956, chegando a conclusão idêntica à do desenhista Salinas Chávez, e forneceram disto um certificado.

Em 1981, os cientistas da National Aeronautical and Space Ad­ministration (NASA), Philip Callahan e Jody Brandt Smith, realizaram em conjunto um detalhado estudo fotográfico, após o qual declararam que a ima­gem da Virgem de Guadalupe “é inex­plicável no atual estágio da ciência”. Com base nesse estudo, fo­ram publicados três livros.

Os resultados dessas sucessivas investigações — cuja serie­dade ninguém pode negar — con­duzem à conclusão evidente de que Nossa Senhora quis deixar para a humanidade dos séculos futuros um testemunho, tão ca­tegórico como misericordioso, de sua milagrosa aparição no século XVI.

O desenhista Salinas Chávez examina a estampa da Virgem de Guadalupe. A figura de São João Diego aparece impressa no olho direito da imagem
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