À rigidez da Antiga Lei em relação ao mal da lepra, Nosso Senhor contrapõe os extremos de sua compaixão para com o pecador verdadeiramente arrependido.

Evangelho do VI Domingo do Tempo Comum

Naquele tempo: 40 Um leproso chegou perto de Jesus, e de joelhos pediu: “Se queres tens o poder de curar-me”. 41 Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: “Eu quero: fica curado!” 42 No mesmo instante a lepra desapareceu e ele ficou curado. 43 Então Jesus o mandou logo embora, 44 falando com firmeza: “Não contes nada disso a ninguém! Vai, mostra-te ao sacerdote e oferece, pela tua purificação, o que Moisés ordenou, como prova para eles!” 45 Ele foi e começou a contar e a divulgar muito o fato. Por isso Jesus não podia mais entrar publicamente numa cidade: ficava fora, em lugares desertos. E de toda parte vinham procurá-Lo (Mc 1, 40-45).

I – Lepra, doença com terríveis consequências

O centro da Liturgia do 6º Domingo do Tempo Comum constitui-se, por incrível que pareça, em torno de uma enfermidade que ainda em nossos dias, mesmo já sendo curável em muitos casos, causa espanto por seus terríveis efeitos: a lepra. Doença trágica numa época em que não havia os tratamentos hoje disponíveis, seu avanço provocava grandes ferimentos e a perda de partes do corpo, deixando os que padeciam deste mal horrivelmente desfigurados e impregnados de um insuportável odor de carne apodrecida. Sem medicamentos adequados nem leprosários onde se tratar, eles não tinham outra saída senão o milagre.

Devido à real possibilidade de contágio, que podia dizimar uma população, a lepra produzia horror. Por isso, com o objetivo de evitar a propagação generalizada da enfermidade, constavam na Lei de Moisés algumas prescrições determinadas pelo próprio Deus que, por sua violência, chocam um pouco os nossos conceitos atuais. Recolhidas no Livro do Levítico, encontramo-las sintetizadas na primeira leitura (Lv 13, 1-2.44-46) desta Liturgia.

Grupo de leprosos fotografado por volta de 1910 no exterior de Jerusalém

Concepção religiosa da doença

A fim de melhor compreender esses preceitos, precisamos nos reportar aos costumes e grau de civilização do povo eleito que, naquele tempo, caminhava aglomerado pelo deserto, à procura da Terra Prometida.

Cabia aos sacerdotes, baseados nos sintomas, exarar um parecer sobre a suspeita de lepra e, em caso de confirmação, considerar oficial e publicamente impuro o doente: “Se o homem estiver leproso é impuro, e como tal o sacerdote o deve declarar” (Lv 13, 44). Desponta aqui uma perspectiva muito importante para entender as leituras deste domingo: o aspecto religioso da lepra. Para os hebreus, que praticavam a Religião verdadeira, este atestado tinha um significado não apenas corporal, mas supunha que a impureza também se verificava na alma, por causa da relação intrínseca entre a parte espiritual e física do homem.

Isso transparece até nos Evangelhos, quando os Apóstolos perguntam a Nosso Senhor a respeito de um cego de nascença: “Mestre, quem pecou, este homem ou seus pais, para que nascesse cego?” (Jo 9, 2). E o Divino Mestre oferece uma visão inteiramente equilibrada sobre o tema ao responder-lhes: “Nem este pecou nem seus pais, mas é necessário que nele se manifestem as obras de Deus” (Jo 9, 3).

Os israelitas, portanto, julgavam que toda doença guardava relação com algum problema espiritual, ou seja, era fruto de pecados cometidos pelo próprio enfermo ou seus antepassados. Havia nisso muito de superstição, pois pensar assim é uma forma de fatalismo. Contudo, tal concepção mostra também um senso moral muito mais agudo do que se tem na atualidade, época em que as pessoas quase nunca levantam uma questão de consciência ao buscar a origem de suas afecções.

Ora, por que Deus colocou as medidas relativas à lepra debaixo da Lei mosaica, de maneira a ratificar essa perspectiva religiosa? Em primeiro lugar, para precaver seus eleitos de uma epidemia. De outro lado, o povo ainda conservava costumes bárbaros e, pior do que isto, tendências muito acentuadas para o pecado, como o demonstra a leitura de qualquer episódio da História Sagrada. Ora, ao ser declarado impuro pelo sacerdote, o leproso era destacado da sociedade mediante um processo religioso, o que remarcava o fato de essa separação não apresentar apenas razões profiláticas. Tendo pecado a ponto de se tornar impuro física e espiritualmente, ele deveria ser posto fora da comunidade, a fim de não a infeccionar em nenhum desses dois âmbitos. Com tais prescrições o Senhor favorecia a prática da virtude pois, além do receio de contrair a doença, os israelitas temiam sofrer como consequên­cia de seus crimes esse radical isolamento até a morte, a qual seria lenta, dolorosa e inevitável.

Os sinais externos de uma excomunhão

O leproso levava em seu exterior uma série de sinais indicativos de sua condição: “O homem atingido por este mal andará com as vestes rasgadas, os cabelos em desordem e a barba coberta, gritando: ‘Impuro! Impuro!’” (Lv 13, 45). Assim, ele trajava uma túnica de cor amarela, chamativa e sem beleza, não podia pentear o cabelo e ocultava a barba com um lenço, o que constituía uma humilhação, pois esta era tida como o adorno natural do homem. E se alguém, distraído, se aproximasse dele, estava obrigado a chamar a atenção para sua impureza, evitando o contato.

É curioso observar que naquele tempo as pessoas se vestiam com compostura, e andar com roupa rasgada e cabelo desgrenhado era signo de excomunhão. Bem ao contrário da moda atual que, talvez por ser destinada a leprosos espirituais, considera luxo desgastar os tecidos para usá-los desbotados, desfiados e até esfarrapados…

Cura de um leproso – Gravura publicada em meados do século XIX

Por fim, o leproso devia “ficar isolado e morar fora do acampamento” (Lv 13, 46), norma que se manteria após o estabelecimento do povo hebreu nas cidades da Terra Prometida. Isso significava viver próximo das feras e longe de qualquer proteção. Ora, o homem deseja relacionar-se com os outros num ambiente de harmonia, uma vez que o instinto mais entranhado na alma humana é o de sociabilidade. O leproso, no entanto, era um verdadeiro pária: condenado pela Religião, não ouvia nenhuma pregação; condenado socialmente, não convivia com ninguém, a não ser com outros da mesma condição. Isolado por completo ou, pior, vituperado por todos como pecador, ele não punha mais suas esperanças nos demais, pois não tinha quem o ajudasse.

Outro fator contribuía para aumentar seu infortúnio. Ele reconhecia que havia pecado, mas seria esta a causa de seu desditoso estado? Eis um problema de consciência que ele arrastava consigo, enquanto esperava a hora em que, com as pernas enfraquecidas e não mais conseguindo andar, terminaria por se deixar apodrecer no lugar onde estivesse, até a morte…

O tremendo quadro do leproso no Antigo Testamento, mantido inalterado por séculos até a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, confere extraordinária substância à cena do Evangelho deste domingo, pois nos mostra a sublimidade da fé de alguém que se achava nessa infeliz situação.

II – O encontro da fé com a compaixão

O leproso deste Evangelho, sem dúvida, ouviu à distância conversas a respeito das primeiras maravilhas operadas por Jesus Nazareno, aquele inaudito Profeta que iniciara o anúncio da Boa-nova havia pouco… Podemos imaginar um grupo de pessoas que por ele passava em festa levando aos ombros um antigo paralítico, curado pelo Taumaturgo galileu, ou uma família que atravessava seu caminho cantando com alegria e chorando de emoção, porque um filho cego recuperara as vistas no contato com o Mestre. Ao escutar tais relatos, a graça começou a atuar na alma do pobre leproso, o qual havia perdido as esperanças, no sentido de compreender que a solução para todos os seus problemas estava naquele Homem.

Certamente ele se lembrava dos grandes prodígios realizados por Deus em favor de seu povo: o maná caído do céu, a passagem a pé enxuto pelo Mar Vermelho, a água brotada da pedra e as vitórias de Israel sobre os pagãos. Tais fatos alimentavam-lhe a fé até, por fim, chegar à conclusão: “Esse Jesus de Nazaré é o Messias prometido!” Desde então vivia na expectativa de encontrar-se com Ele…

Um belo dia, quando sua fé estava no auge, ouviu um tropel, em meio ao qual pôde distinguir: “É Jesus Nazareno!” Sem pensar duas vezes, ele partiu depressa, pois sabia haver soado a hora que tanto esperava!

Ousadia fruto da confiança

Naquele tempo: 40a Um leproso chegou perto de Jesus, e de joelhos pediu:…

O Evangelista São Marcos observa bem: “chegou perto”. Sendo leproso, aquele homem nunca poderia tomar a iniciativa de se aproximar de ninguém… Talvez sua voz estivesse meio roufenha, pelo fato de a doença haver atingido a garganta, e não mais conseguisse gritar à distância, como faria mais tarde Bartimeu: “Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim!” (Mc 10, 47). Era necessário pôr-se a seu lado! Tomado de entusiasmo, ele rompeu a lei segundo a qual deveria estar proclamando sua impureza e se manter longe de todos, pois desejava ficar face a face com Nosso Senhor. Grande coragem, uma vez que se expunha a sanções horríveis, até mesmo à morte por apedrejamento. Ele se arriscou porque adquirira a certeza de que o Redentor o trataria com bondade.

Ora, ninguém se acercava de Jesus tão facilmente, pois havia muita aglomeração em torno d’Ele. A este homem, no entanto, a lepra ajudou… Ao perceberem os sinais distintivos da doença, as pessoas saltavam de espanto, abrindo-lhe a passagem. Além do perigo de contágio, quem tocava num impuro por distração devia fazer uma série de abluções para se livrar da mácula legal adquirida neste rápido contato. Assim, o doente foi avançando até chegar diante de Nosso Senhor. O Divino Mestre permitiu essa aproximação para indicar como nós sempre seremos recebidos por Ele, por pior que seja o nosso estado.

Seguiu-se uma nova ousadia, que só se compreenderia tendo noção bem clara de quem era aquele Homem: o leproso se ajoelhou, atitude que então era rara e só se tomava quando um vencido queria clemência ou em situações análogas. Significava, portanto, verdadeira humildade por parte do leproso, que desse modo reconhecia o indiscutível senhorio d’Aquele diante do qual estava.

Cura do leproso (detalhe) – Biblioteca do Mosteiro de Yuso, San Millán de la Cogolla (Espanha)

Fé intensa, simples e generosa

40b “Se queres tens o poder de curar-me”.

Todos os milagres exigem a fé de quem os pede, e esta deve ser intensa, simples e generosa. É o que vemos na súplica do leproso: “Se queres tens o poder”, singela formulação expressa num tom categórico e cheio de confiança, porque manifestava seu abandono nas mãos de Nosso Senhor, o qual sabia ser todo feito de misericórdia e condescendência.

Além do mais, ele não queria somente ser beneficiado, pois para isso bastaria dizer: “Senhor, cura-me…” Ao declarar de forma taxativa: “Se for de tua vontade curar-me, tens poder para tal”, desejava também que Nosso Senhor fosse glorificado. Suas palavras sugerem que, sem haver recebido revelação alguma a não ser no íntimo do seu coração, talvez o leproso já acreditasse que Jesus era Deus. Caso contrário, ele teria dito: “Se quiseres, por teu intermédio Deus irá curar-me”. Trata-se de uma fé extraordinária! Exemplo para nós, que devemos ser igualmente ousados sempre que nossa alma passe por uma dificuldade.

É oportuno ressaltar que, enquanto nenhum mestre da Lei chegou a formar tal conceito a respeito do Divino Mestre, o leproso recebeu esse dom do Alto. Por estar à margem da sociedade, ele nunca ouvira as pregações vazias dos escribas e fariseus, que difundiam entre o povo a lepra do espírito, e, por conseguinte, não havia se corrompido. Isso mostra como, muitas vezes, o fato de alguém ser lançado por Deus num isolamento não desejado, acaba preservando-o de certas influências más e tornando-o mais aberto à ação da divina graça.

Ora, se nós encontrássemos esse leproso, quiçá daríamos um salto para trás, mandando-o embora e pedindo que fosse castigado por sua imprudência. A reação de Nosso Senhor, porém, foi bem diferente…

Disposição infinita de sofrer com os homens

41 Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: “Eu quero: fica curado!”

Mais uma vez São Marcos é muito preciso ao usar a expressão “cheio de compaixão”, já que esta última palavra significa sofrer com. O Sagrado Coração de Jesus é um coração humano, mas com capacidade de sofrer ilimitada. Dessa forma, a humilde atitude do leproso, feita de amor intenso por Aquele que lhe era superior, comoveu profundamente Nosso Senhor pois, enquanto Homem, Ele Se entristecia por ver seu semelhante coberto de lepra.

O Salvador poderia perfeitamente dizer à distância: “Está bem, faça-se como pedes”, e expulsar a doença. Entretanto, estendeu a mão – e que mão! – sobre o leproso e, mais ainda, o tocou. Isso significava um violento rompimento com as leis relativas à lepra, ultrapassando todos os limites até um extremo inimaginável! Ora, quem criou essas leis e as transmitiu a Moisés? Ele próprio. Portanto, agiu assim para mostrar que estava acima de tais preceitos.

Por fim, Nosso Senhor manifestou também o seu poder pois, em lugar de dizer “Eu invoco o Pai e peço-Lhe que te cure”, afirmou taxativamente: “Eu quero: fica curado!” Deixava patente que era Ele quem operava, e não um espírito ou alguma força desconhecida.

Eis a resposta de Jesus à proclamação de uma fé autêntica, porque despojada de qualquer desejo de aparecer diante dos outros. E este deve ser o relacionamento entre todo superior e inferior. O primeiro, vendo seu subalterno em uma necessidade, tem compaixão e procura ajudá-lo. O inferior, por sua vez, completa a autoridade pela admiração, numa maravilhosa sinfonia de desigualdade e hierarquia, na qual o respeito desce e sobe, exatamente de forma inversa ao que quer o demônio. Nosso Senhor, que é o Superior – é Deus! –, diante daquele inferior – um leproso! – mostra não ter a menor repulsa a qualquer mal que possamos levar em nós, pois Ele só anseia por fazer o bem. Veio assumir as nossas enfermidades e está disposto a carregar em Si a culpa por nossos pecados.

Cura do leproso – Catedral de Monreale (Itália)

Um milagre retumbante

42 No mesmo instante a lepra desapareceu e ele ficou curado.

Basta considerar os prováveis efeitos da lepra naquele homem para avaliar a grandeza do milagre, operado “no mesmo instante”. Pele ferida, membros mutilados, olhos injetados de sangue, mau cheiro… “Eu quero: fica curado!” Aquele horror desaparece e, num momento, tudo se reconstitui. O ex-leproso levanta-se com o olhar cheio de luz e o corpo inteiramente limpo, pois Nosso Senhor, somando milagre ao milagre, fez também desaparecer as marcas da lepra e recompôs todas as partes afetadas. O miraculado sentiu-se não só livre da lepra, mas, sobretudo, inundado de extraordinária alegria de alma por ver-se nas mãos de Deus.

Oh, que cena impressionante! Quando a humildade é extrema e a atitude é de admiração verdadeira, os pedidos são atendidos com superabundância e imediatamente.

Prudência de Nosso Senhor no início de seu ministério

43 Então Jesus o mandou logo embora, 44 falando com firmeza: “Não contes nada disso a ninguém! Vai, mostra-te ao sacerdote e oferece, pela tua purificação, o que Moisés ordenou, como prova para eles!”

Ainda não era hora de fazer propaganda e, por isso, Nosso Senhor disse-lhe “com firmeza” que não contasse a ninguém o acontecido. Previa, certamente, as imprudências que o ex-leproso poderia cometer ao divulgar o fato, sendo causa de complicações antecipadas para sua missão recém-iniciada.

Por sua vez, para nos dar exemplo de quanto devemos acatar as normas estabelecidas, fazia respeitar a Lei mosaica que Ele mesmo havia criado. O miraculado, portanto, precisava cumprir a prescrição de se apresentar aos sacerdotes, para que o examinassem. Isso importaria em dar testemunho de que a origem de sua insólita recuperação estava em Jesus de Nazaré. Ademais, ao receber um atestado oficial de cura, ele deixaria de ser tratado como um impuro.

Fervor de noviço…

45 Ele foi e começou a contar e a divulgar muito o fato. Por isso Jesus não podia mais entrar publicamente numa cidade: ficava fora, em lugares desertos. E de toda parte vinham procurá-Lo.

O entusiasmo pelo benefício recebido e, mais do que isso, o amor e adoração por Aquele que é Deus, fez com que o ex-leproso não guardasse a prudência recomendada. Sem conseguir obedecer à ordem recebida e não sabendo como agradecer a Nosso Senhor, ele começou a propagar o milagre de que fora objeto, pois queria manifestar aos outros a benevolência divina. Tão autêntica gratidão, enraizada na fé, levava-o a difundir por todas as partes, com fervor de noviço, o nome do grande Taumaturgo!

A consequência foi imediata. A fama de Nosso Senhor se espalhou e todas as pessoas que tomavam conhecimento do fato, encantadas e impressionadíssimas, iam à sua procura, a tal ponto que Ele não mais podia entrar nas cidades.

Confissão na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, Caieiras (SP)

III – Um milagre simbólico

Se o milagre realizado em favor do leproso nos encanta, seja pela misericordiosa compaixão do Divino Mestre, seja pela exuberante fé do beneficiado, mais abundantes frutos colheremos se o analisarmos numa perspectiva alegórica altamente proveitosa para nossa vida espiritual.

A lepra bem pode ser considerada como símbolo da situação de alma daqueles que, entregando-se ao pecado, abandonam a comunhão com Deus e com os que vivem na sua graça; daqueles que, tendo recebido o Batismo, a Crisma e a Eucaristia, preferem as vias da iniquidade.

Se um leproso, segundo o conceito do Levítico, ficava estigmatizado e era separado do convívio social, quem abraça o pecado mortal, por mais que se encontre no meio de outros que estão na graça de Deus, permanece fora do fluxo da vida divina que neles circula. Tragédia tremenda, que deveria nos causar maior espanto que os repelentes efeitos físicos da lepra.

A lepra infecta o sangue e toma o organismo inteiro, consumindo sua beleza e debilitando-o até a morte. Também o pecado corrói aos poucos a formosura da alma, destrói todo o edifício espiritual e, caso a pessoa não se emende, conduz ao inferno, morte eterna de consequências muito mais drásticas que a morte corporal.

Basta reconhecer-se leproso para ser curado

Nosso Senhor veio arrancar as almas do caminho da eterna condenação e colocá-las nas vias da salvação, manifestando sua infinita misericórdia para com o pecador, tal como, sem medo de contrair algum mal, pôs sua mão sobre o leproso do Evangelho. A situação deste mostra-nos que a Providência pode nos falar através dos dramas, das dificuldades e das aflições, pois, se ele estivesse são, talvez tivesse se deixado influenciar pelos fariseus e olhado para o Redentor com desconfiança.

Também nós, concebidos no pecado original e carregados da herança de nossos pecados atuais, temos inúmeras oportunidades de, passando por cima do nosso orgulho, constatar e reconhecer o quanto somos miseráveis! Ao admitir que somos leprosos, preenchemos a condição essencial para dizer: “Senhor, se quereis tendes o poder de curar-me”, e receber o perdão.

Como? Procurando o Médico e, portanto, aproximando-nos com ousadia de Nosso Senhor. Ele necessita de leprosos para neles manifestar o seu poder. É preciso apenas ter sofreguidão de se ver curado.

Para isso, Nosso Senhor Jesus Cristo deixou um remédio infalível: o Sacramento da Penitência. O confessionário é o local onde as pessoas não só declinam suas faltas para serem perdoadas, mas recebem forças a fim de perseverar na prática da virtude. É o próprio Jesus Cristo quem as espera para, usando a voz do sacerdote, dizer: “Eu quero: fica curado”, e sarar leprosos em quantidade. E assim como no Evangelho “a lepra desapareceu e ele ficou curado no mesmo instante”, o mesmo se passa quando a Confissão é bem feita. Quantos milagres se verificaram na História desde a instituição desse Sacramento! Logo, devemos recorrer ao Divino Médico com confiança, pois Ele tomou sobre Si a nossa lepra!

Sagrado Coração de Jesus – Casa Monte Carmelo, Caieiras (SP)

Deus tem necessidade de manifestar sua misericórdia

Se pudéssemos analisar os pecados cometidos desde Adão e Eva até os nossos dias, e projetar uma perspectiva hipotética de como serão os homens até o fim do mundo, chegaríamos à conclusão de que são poucos aqueles que, à hora da morte, conservam intacta sua inocência.

Por que isso se dá? Deus não poderia ter criado uma humanidade inocente? Não seria mais perfeito? Partindo do raciocínio teológico de que, se Ele assim fez, é porque era o melhor, como provar que um mundo constituído por pecadores rende maior glória ao Criador?

Da mesma maneira como há em Deus a capacidade de condenar, existe n’Ele uma infinita capacidade de perdoar que, se não fosse posta em prática, tornaria defectiva a obra da criação. Se Ele fizesse um mundo só de inocentes, não se conheceria a misericórdia que a Teologia chama de curativa, e que o Altíssimo tem a possibilidade de manifestar em grande escala sobre os pecadores.

Com a confiança do leproso, consideremos os braços abertos de Nosso Senhor Jesus Cristo convidando-nos a não nos afligir, ainda se acometidos pela pior das lepras. E aproximemo-nos d’Ele, para que sua divina mão pouse sobre nossa cabeça e nos seja dado ouvir de seus lábios: “Eu quero: fica curado!” 

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Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP, é fundador dos Arautos do Evangelho.

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