A civilização será tanto mais verdadeira, mais duradoura, mais fecunda em preciosos frutos, quanto mais for autenticamente cristã; tanto mais decadente, para grande desgraça da sociedade, quanto mais se afastar do ideal cristão.

 

Embora pregando Jesus crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos (cf. I Cor 1, 23), a Igreja tornou-se inspiradora e principal promotora da civilização. Ela a difundiu em todos os lugares onde seus apóstolos pregaram, conservando e aperfeiçoando os bons elementos das antigas civilizações pagãs, arrancando da barbárie e elevando à categoria de sociedade civilizada os novos povos que se refugiavam em seu seio maternal, e dando à sociedade – aos poucos, sem dúvida, mas em cadência segura e sempre progressiva – essa marca tão característica que até hoje ela conserva por toda parte.

A civilização do mundo é Civilização Cristã; ela é tanto mais verdadeira, mais duradoura, mais fecunda em preciosos frutos, quanto mais é autenticamente cristã; tanto mais decadente, para grande desgraça da sociedade, quanto mais se afasta do ideal cristão.

A paz se estabeleceria no mundo se nele se realizasse o ideal da Civilização Cristã

Então, pela força intrínseca das coisas, a Igreja é efetivamente guardiã e protetora da Civilização Cristã. E tal fato, reconhecido e admitido em outros séculos da História, forma ainda o inabalável fundamento das legislações civis. Nesse fato se apoiaram as relações entre a Igreja e os Estados, o reconhecimento público da autoridade da Igreja em todas as matérias que de algum modo afetem a consciência, a subordinação de todas as leis do Estado aos divinos preceitos do Evangelho, a concórdia entre os dois poderes, civil e eclesiástico, para promover o bem temporal dos povos de modo a não prejudicar o bem eterno.

Não temos necessidade de expor-vos, veneráveis irmãos, a prosperidade e o bem-estar, a paz e a concórdia, a respeitosa submissão à autoridade e o excelente governo que se estabeleceriam e se manteriam no mundo se se pudesse realizar por toda parte o perfeito ideal da Civilização Cristã.

Entretanto, dada a contínua luta da carne contra o espírito, das trevas contra a luz, de satanás contra Deus, não é de se esperar um tão grande bem, ao menos em sua plena realização. Daí decorrem os contínuos ataques contra as pacíficas conquistas da Igreja, tanto mais dolorosos e funestos quanto mais a sociedade humana tende a se governar pelos princípios opostos ao conceito cristão e a separar-se totalmente de Deus.

Restaurar tudo em Cristo, inclusive a civilização

Não se deve por isso perder a coragem. A Igreja sabe que as portas do inferno não prevalecerão contra ela; mas sabe também que neste mundo sofrerá pressões, que seus apóstolos são enviados como ovelhas em meio aos lobos, que seus seguidores serão sempre cobertos de ódio e desprezo, tal como de ódio e desprezo foi repleto o seu Divino Fundador. Não obstante, a Igreja avança impávida e, enquanto difunde o Reino de Deus onde ele ainda não foi pregado, empenha-se por todos os meios em reparar as perdas ocorridas no Reino já conquistado.

“Restaurar tudo em Cristo” foi sempre o lema da Igreja, e é de modo especial o nosso nos trepidantes tempos atuais. Restaurar tudo, não de qualquer modo, mas em Cristo: “Reunir em Cristo todas as coisas, as que estão nos Céus e as que estão na terra” (Ef 1, 10), acrescenta o Apóstolo. Restaurar em Cristo não só o que pertence propriamente à missão divina da Igreja, de conduzir as almas a Deus, mas também aquilo que, como já explicamos, deriva espontaneamente dessa divina missão, a Civilização Cristã no conjunto de todos e de cada um de seus elementos constitutivos.

E para nos ater a esta última parte da restauração almejada, vós bem vedes, veneráveis irmãos, quanto apoio prestam à Igreja esses batalhões de católicos de elite que se propõem a reunir todas as forças vivas para combater por todos os meios justos e legais a civilização anticristã, reparar de todos os modos as gravíssimas desordens que dela derivam; reintroduzir Jesus Cristo na família, na escola, na sociedade; restabelecer o princípio da autoridade humana como representante da de Deus; tomar sumamente a sério os interesses do povo, sobretudo da classe obreira e agrícola, não só instilando nos corações o princípio religioso, única fonte verdadeira de consolação nas angústias da vida, mas também empenhando-se em enxugar suas lágrimas, abrandar seus sofrimentos, melhorar sua condição econômica através de medidas adequadas; em consequência, esforçar-se para que as leis públicas sejam conformes à justiça, corrigindo ou suprimindo as que a esta se opõem; por fim, defender e sustentar com autêntico espírito católico, em todas as circunstâncias, os direitos de Deus e os não menos sagrados direitos da Igreja. […]

Adaptação ao que é contingente, fidelidade ao que é imutável

Deve-se de fato assinalar que nem tudo quanto nos séculos passados tenha sido útil, ou mesmo apenas eficaz, pode agora ser restaurado da mesma forma, já que são numerosas as modificações radicais introduzidas no decurso dos tempos na sociedade ou na vida pública, e tantas são as novas necessidades que as circunstâncias cambiantes não cessam de suscitar.

Mas a Igreja, no longo curso de sua História, demonstrou luminosamente possuir uma maravilhosa virtude de adaptação às variáveis condições da sociedade civil, de modo tal que – ressalvando sempre a integridade e a imutabilidade da Fé, bem como seus sacrossantos direitos – ela facilmente se inclina e se acomoda, em tudo quanto é contingente e acidental, às vicissitudes dos tempos e às novas exigências da sociedade.

A piedade, diz São Paulo, a tudo se ajusta, pois possui as promessas divinas, tanto para os bens da vida atual quanto para os da vida futura: “A piedade é útil para tudo, pois tem a promessa da vida presente e da futura” (I Tim 4, 8). 

Excertos de: SÃO PIO X.
Il fermo proposito, 11/6/1905

 

Na foto em destaque: Vista aérea da cidade de Toledo (Espanha), com a catedral em primeiro plano

 

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1 COMENTÁRIO

  1. Muito atual o pensamento do Papa São Pio X. No Brasil, a constituição de 1988, com o tal “país laico”, afasta o Estado, as repartições públicas, as escolas e a própria família de Deus. A igreja será severamente atacada pelos anticristãos, promoverão o aborto, a pornográfica, a imoralidade e a desnaturatizacão da família.
    Rezemos, e lutemos conta essa maligna!

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